Rio de Janeiro e seus dias, parte 1

Antes de tudo, leia mas não fique preocupado. Passou. É engraçado até.

Um dia qualquer. Muito trabalho, uma gripe e uma felicidade transbordante por cumprir mais um dia da minha rotina.

Produzi, ri, matei mosquitos e resolvi problemas pessoais. Enfim, mais um dia.

Estava eu dirigindo para a universidade onde sou professor. Na linha vermelha, no engarrafamento, sob o buzinar desvairado das motos, meu olhar perdido no batalhão da polícia e os anúncios de biscoito Globo, tomei uma decisão. Decisão costumeira, daquelas que você toma todos os dias: comer no Bob’s ou no MC Donalds? Assistir uma série ou um filme? Pizza ou cachorro-quente? Utilizar Padrões de Projeto ou ir no Stack Overflow?

Eu tinha que pegar a linha amarela. Sim, eu tomei a decisão. Decidi evitar mais engarrafamento e “cortar” pela comunidade.

Uma rua estreita, um carro no meio da pista e um pouco de imperícia… Bang! Arranquei um retrovisor fora. Olhei para o lado direito. Meu retrovisor apenas se retraiu.

O retrovisor atingido com gravidade não era o meu. O pior tinha sido reservado para o colega: quebrado, estatelado no chão sob o olhar do proprietário da moto, carregado de ressentimento e incredulidade.

Reação natural, parei mais a frente. A culpa não era só minha. Afinal, aquela moto estava um pouco para rua. Vi pelo retrovisor meu oponente se aproximando. Percebi que o mesmo carregava consigo, digamos, uma proteção adicional. Ele caminhava. E eu, aguardava. Naquele caminhar, lembrei de Rocky enfrentando Apolo Creed. Lembrei de Luke derrotando o Imperador. Lembrei de Davi e Golias. Lembrei até mesmo de Seya elevando o cosmos. Ora, se eu fizesse como Daniel San em “Karatê Kid”, o que poderia me deter?

Em microssegundos minhas sinapses produziram a resposta correta. Abaixei o vidro. Ele colocou a cara na janela. Não hesitei! Na mesma hora, lhe disse, com a coragem de um Jedi:

-A culpa é minha. Eu pago.

Ele mudou a feição. Olhou pra mim, um tipo esquisito. Então, proferiu:

– Tá tranqüilo. (Não, ele não disse tá favorável).

Fomos numa loja que tinha ali perto. Perguntei o preço e o rapaz me disse: 24 reais. Dei os 24 reais e o vendedor me alertou:

– 24 é o par. Você só quebrou um.

O novo retrovisor me custou 12 reais.

Fui embora. Fui cumprir minha rotina. Fui embora feliz.

Feliz porque tenho uma família, estou bem e vivo.
Feliz porque tenho saúde e isso me permite trabalhar muito.
Feliz porque eu tinha 12 reais.

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